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ENTREVISTA (FICTÍCIA) COM CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (CDA),

REALIZADA POR ELRIANE ROCHA DE ALMEIDA (ERA).

A aluna elaborou as perguntas e ela mesma respondeu pesquisando a biografia de Drummond.

 

ERA: SR. CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE, é uma honra entrevistá-lo! Gostaria de lhe fazer algumas perguntas...

CDA: Para mim, também é muito gratificante ser entrevistado por você, ELRIANE. Terei o maior prazer em responder suas perguntas!

ERA: Bem, então vamos começar... Onde e quando o senhor nasceu?

CDA: Nasci em ITABIRA do MATO DENTRO, em MINAS GERAIS, no dia 31 de outubro de 1.902. ITABIRA é uma cidade que amo muito.

ERA: Conte-me um pouco de sua infância...

CDA: Sou de uma família de fazendeiros em decadência. Meus pais eram o Sr. CARLOS DE PAULA ANDRADE e Dr. JULIETA AUGUSTA DRUMMOND DE ANDRADE. Sou o nono filho deles.

ERA: Quando mudou-se para BELO HORIZONTE?

CDA: Fui para BELO HORIZONTE em 1910, para estudar.

ERA: E onde estudou?

CDA: Comecei o curso primário em 1910, quando me mudei para BELO HORIZONTE, com 7 anos de idade. Estudei no grupo Escola Dr. Carvalho Brito, onde Conheci GUSTAVO CAPANEMA e AFONSO ARINOS DE MELO FRANCO. Em 1.916, fui para o internato do Colégio Arnaldo do Verbo Divino, em BELO HORIZONTE. Em 1917, retornei à ITABIRA e tive aulas particulares com o professor EMÌLIO MAGALHÃES. No ano seguinte, em 1918, retornei ao internato, mas agora no RIO DE JANEIRO; Mais precisamente no Colégio Anchieta da Companhia de Jesus, em Nova Friburgo . Fui premiado nesta época em "Certames Literários". Meu irmão ALTIVO publicou meu poema em prosa "Onda", no único exemplar do Jornalzinho Maio...

ERA: E qual estória é essa de que o senhor foi expulso do colégio?

CDA: (risos) È verdade, minha filha! Expulsaram-me por "insubordinação mental" em 1920, e ainda fui obrigado a me retratar.

ERA: Que coisa heim ?! (risos)

CDA: (risos) Pois é, acho que não me enquadrava muito...

ERA: Em 1.920 o senhor retornou com sua família à BELO HORIZONTE e em 1.921 publicou seus primeiros trabalhos. Pode me falar sobre isto?

CDA: È claro. Meus primeiros trabalhos foram publicados na seção "Sociais" do Diário de Minas.

ERA: E o senhor conheceu alguns freqüentadores do café Estrela e da Livraria Alves, quem foram?

CDA: Você é muito bem informada...È verdade sim . Conheci MILTON CAMPOS, ABGAR CAMPOS, MÀRIO CASASSANTA, JOÂO ALPHONSUS, BATISTA SANTIAGO, ANÌBAL MACHADO, PEDRO NAVA, GABRIEL PASSOS, HEITOR de SOUZA e JOÃO PINHEIRO FILHO.

ERA: Fala-me a respeito do prêmio de 50 mil réis que o senhor recebeu em1922.

CDA: Recebi esse prêmio no concurso novela mineira pelo, conto "JOAQUIM DO TELHADO". Ainda neste ano publiquei trabalhos nas revistas Todos e Ilustração Brasileira.

ERA: Mas a sua família insistia que o senhor tivesse um diploma. E aí?

CDA: Aí entrei para Escola de Antologia e farmácia, em 1.929, na cidade de BELO HORIZONTE. Conclui o curso de farmácia OURO PRETO, mas não exerci a profissão pois queria preservar a saúde dos outros.(muitos risos).

ERA: E nesse tempo em que o senhor estava na faculdade? Fala-me de alguns acontecimentos marcantes.

CDA: Bem, em 1.924 escrevi uma carta à MANUEL BANDEIRA, manifestando-lhe minha admiração, conheci BLAISE LENDRARS, OSWALDO de ANDRADE, TARSILA do AMARAL e MARIO de ANDRADE no GRANDE HOTEL de BELO HORIZONTE. Pouco tempo depois comecei a me corresponder com MÁRIO e isso durou até poucos dias antes da morte dele. E em 1.925 casei-me com a senhorita DOLORES DULTRA de MORAIS, a primeira ou segunda mulher a trabalhar num emprego em BELO HORIZONTE. Ela era contadora em uma fábrica de sapatos. Nesse mesmo ano, fundei com EMÍLIO MOURA e GREGORIANO CANEDO, a revista Órgão Modernista .

ERA: Em 1.929 o senhor deixou o Diário de MINAS GERAIS, não foi?

CDA: Foi sim. Fui trabalhar no MINAS GERAIS como auxiliar de redação e pouco depois fui promovido à redator sob direção do grande ABÌLIO MACHADO.

ERA: Veio em 1.930 seu primeiro. Qual o nome desse livro? O que o senhor fazia nesse ano?

CDA: O nome do livro é "ALGUMA POESIA", em edição de 500 exemplares pago por mim, sob o selo imaginário "Edições Pindorama", criado por EDUARDO FRIEIRO. Eu era auxiliar de gabinete do secretário de interior CRISTIANO MACHADO e passei a oficial de gabinete quando GUSTAVO CAPANEMA, aquele que foi meu amigo de ginásio, substituiu CRISTIANO MACHADO

ERA: Em 1.931 seu pai faleceu. Em 1.933 o senhor era redator de A Tribuna. Acompanhou GUSTAVO CAPANEMA quando ele foi nomeado Interventor Federal em MINAS GERAIS. Quais fatos lhe marcaram mais a partir deste ano?

CDA: Em 1934 voltei a ser redator dos jornais MINAS GERAIS, ESTADO de MINAS GERAIS e DIÁRIO da TARDE. Publiquei "Brejo das Almas" em edição de 200 exemplares pela cooperativa. Em 1937 colaborei na revista, Acadêmica de MURILO MIRANDA. Em 1940 publiquei "sentimento do mundo". Em 1942, a livraria JOSÉ OLYMPIO EDITORA publicou "POEMAS". O Editor JOSÉ OLYMPIO foi o primeiro a se interessar pela minha obra. Em 1943, traduzi e publiquei a obra THÉRÈSE DESQUEYROUXE, de FRANÇÓIS MOURIAC. E no ano de 1945, publiquei "A ROSA DO POVO" pela JOSÉ OLYMPIO e a novela "O GERENTE". Já em 1946 recebi o prêmio pelo conjunto de obra, da sociedade FELIPE de OLIVEIRA . Minha filha MARIA JULIETA publicou o livro como novela "A BUSCA", pela JOSÉ OLYMPIO.

No ano de 1953, exonerei-me do cargo de redator de MINAS GERAIS, ao ser estabilizada minha situação de funcionário da DPHAN.

Em 1954, publiquei "FAZENDEIROS DO AR E POESIAS ATÉ AGORA ". Em 1957, publiquei "FALA, AMENDOEIRA " e "CICLO", e em 1958 em BUENOS AIRES uma seleção de seus poemas na coleção "POETAS DEL SIGLO VEINTE". Publiquei "LIÇÕES DE COISAS", "ANTOLOGIA POÉTICAS" e "A BOLSA E A VIDA", e em 1.9 62 a casa da rua JOAQUIM 81, onde vivi 36 anos foi demolida. Passei a morar em apartamento. Recebi novamente o prêmio PADRE VENTURA .

Aposentei-me como chefe da DPHAN, após 35 anos de serviço público, recebendo carta de louvor do Ministério da Educação, OLIVEIRA BRITO. Em 1966, publiquei "CADEIRA DE BALANÇO", e na SUÉCIA é lançado "NATEN OCH ROSEN", e em 1.967, publiquei "VERSIPROSA", "MUNDO VASTO MUNDO", com tradução de MANUEL GRAÑA ETCHEVERRY. Em 1.968, publiquei "BOITEMPO" e "A FALTA QUE AMA". Em 1.971, publiquei "SELETA EM PROSA E VERSO". Edições de "POEMAS" e em cuba.

Em 1973, publiquei "AS IMPUREZAS DO BRANCO", "MENINO ANTIGO –BOITEMPO II ", "LA BOLSA Y LA VIDA ", em BUENOS AIRES, e "RÉUNION", em PARIS. No ano de 1974, recebi o prêmio de Poesia da ASSOCIAÇÃO PAULISTA de críticos literários. Em 1980, recebi os prêmios ESTÁCIO DE SÁ, de jornalismo, e MORGADO MATEUS (PORTUGUAL), de poesia.

No ano de 1981, publiquei "Contos plausíveis" e "O pipoqueiro da esquina". Em 1983, recusei o troféu JUCA PATO. Publiquei "NOVA REUNIÃO (19 LIVROS DE POESIA)", meu último livro publicado, pela casa JOSÉ OLYMPIO. Em 1985, foi publicado "AMAR SE ARREPENDE AMANDO", "O OBSERVADOR NO ESCRITÓRIO" (memórias), "HISTÓNRIA DE DOIS AMORES" (LIVRO INFANTIL) e "AMOR SINAL ESTRANHO", e em 1986, publiquei "TEMPO, VIDA, POESIA". Edição de "TRAVELLING IN THE FAMYLI", em NEW YORK, pela RANDON HOUSE. Escrevi 21 poemas para a edição do centenário de MANUEL BANDEIRA.

ERA: Estou viajando na sua estória senhor CARLOS. Nem me atrevi a interrompe-lo. A trajetória percorrida pelo senhor, merece ser ouvida com muito respeito. Agradeço - lhe pela paciência com que me atendeu e me sinto honrada por poder ouvi-lo. O senhor é um homem de grande valor para nossa sociedade. Espero que eu consiga mostrar um pouco do que o senhor me falou aos meus amigos que te admiram. O meu muito obrigado.

CDA: Os agradecimentos são meus, minha filha. Espero que eu tenha contribuído um pouquinho para matar sua curiosidade, apesar de você já saber muito sobre mim. Agora, vou mesmo descansar.